A segunda vida da McLaren… "despachado" Ron Dennis com 313 milhões!

Até aqui, embora ao ouvirmos o nome McLaren significasse sempre o mesmo, fosse nas pistas da Fórmula 1 ou nos novos modelos superdesportivos, a verdade é que se tratava de duas empresas independentes. Mas com a notícia de que Ron Dennis vendera as partes que ainda detinha nas duas organizações da McLaren surgiu também o anúncio de uma restruturação de ambas as empresas que passarão a funcionar sob um único "chapéu", o do McLaren Group.

Talvez seja melhor explicar, primeiro, como tudo funcionava… De um lado há a empresa responsável pela construção dos automóveis de estrada, os fascinantes superdesportivos que têm dado muito dinheiro a ganhar à… McLaren Automotive, cujo presidente executivo é Mike Flewitt e de que Ron Dennis detinha ainda 11%. Esta companhia independente foi fundada em 2010 quando Dennis decidiu avançar para uma estratégia de construtor automóvel assumido, em vez de uma marca com um produto pontual (como o mítico F1) ou com colaborações com grandes construtores (como o Mercedes SLR).

Do outro está o McLaren Technology Group que alberga diversas empresas, entre as quais a McLaren Racing (a equipa de F1) ou a McLaren Applied Technologies (consultoria em engenharia e que irá, por exemplo, fornecer as novas baterias que permitirão aos Fórmula E fazer toda a corrida com um único carro, a partir da época 2018/19), entre outras. Nesta restruturação agora anunciada, McLaren Automotive e McLaren Technology Group passam a conviver dentro de uma "holding" designada apenas McLaren Group.

E quem será o presidente executivo do McLaren Group? É aqui que se começa a contar a história da "guerra" que se travou nos últimos anos dentro da McLaren e que agora terminou, com Ron Dennis a sair "porta fora", embora com um invejável cheque de, segundo consta, 313 milhões de euros! Mohammed bin Essa Al Khalifa, xeque do Bahrain, é agora o presidente executivo do McLaren Group, ficando Mansour Ojjeh, o franco-saudita ex-amigo de Ron Dennis e dono da TAG, como director do Comité Executivo. Porque a Bahrain Mumtalakat Holding Company e a TAG são agora os accionistas maioritários (os donos, em português "para todos") do McLaren Group.

Como se chegou até aqui, terminando assim, pela porta pequena, a carreira de alguém que dedicou os últimos 37 anos da sua vida a erguer um verdadeiro império como é a McLaren? Tudo terá começado numa feroz zanga por motivos pessoais, algures entre 2013 ou 2014, entre Dennis e Ojjeh. Depois, Ron Dennis procurou investidores (nomeadamente chineses) que lhe permitissem reunir os meios para comprar os 75% da McLaren nas mão de Ojjeh (25%) e da "holding" do Bahrain (50%). Não tendo conseguido, seguiu-se… o contra-ataque, com o seu afastamento da liderança da companhia, há cerca de seis meses.

Este desfecho, em que Ron Dennis foi "convencido" a vender os 25% que detinha na McLaren Technology mais os 11% da McLaren Automotive, era já adivinhado. E, apesar das palavras de mútuo apreço e desejo de felicidades, sabe-se que ficou muito azedume no ar. Ron Dennis tem trabalhado como consultor do ministério da Defesa britânico e não se espera que, aos 70 anos (feitos no passado dia 1), volte a tentar uma aventura na Fórmula 1…

Ron Dennis pegou na McLaren em 1980 quando a equipa, apesar de ter dois títulos mundiais no currículo, estava num rápido e perigoso declínio financeiro. Integrou os activos no seu Project Four e criou a chamada McLaren International, na altura uma equipa com 100 pessoas e avaliada em 3 milhões de libras. Passados 37 anos, com a conquista de 10 títulos de pilotos (com Lauda, Prost, Senna, Hakkinen e Hamilton) e 7 de construtores, Dennis transformou a McLaren num império tecnológico em que trabalham 3400 pessoas e está avaliado em 2,4 mil milhões de libras.

Personagem pouco simpático e por vezes controverso, perfeccionista compulsivo, levou uma nova forma de trabalhar para a F1, elevando em muito a fasquia do profissionalismo na competição. Agora sai definitivamente dos registos da McLaren. Mas nunca da sua história!

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